Gestão ativa origina floresta biodiversa
Conheça a experiência de Francisco Veiga com a certificação dos serviços de ecossistemas sequestro e armazenamento de carbono.
A Herdade da Torre e Carrascal, em Montemor-o-Novo, é um espaço onde coexiste o património natural e o edificado. O Castelo da Torre, hoje em ruína (uma herança classificada como património arqueológico), é uma lembrança constante da história deste local, no Alentejo, que se estende por uma área de 465 hectares onde predomina o montado de sobreiros e azinheiras, muitas delas também árvores que resistem ao tempo. Em ambas as propriedades existem áreas protegidas inseridas na Rede Natura 2000 e, de acordo com a metodologia do grupo APFCertifica (criado em 2007 pela Associação de Produtores Florestais de Coruche – APFC), foram definidos nestas explorações Altos Valores de Conservação.
A certificação em gestão florestal FSC® chegou em 2018 a estas propriedades e, a partir daí, foi um processo natural até, em 2021, ter sido atribuída a certificação dos serviços de ecossistemas, sequestro e armazenamento de carbono. “Uma das principais mais-valias que identifico é que a floresta passou a estar mais limpa. Outro dos aspetos que destaco é que passámos a ter tudo certificado, desde a mão-de-obra contratada até às árvores que plantamos”, comenta Francisco Veiga, gestor da Herdade da Torre e Carrascal.
É feita uma gestão ativa, com conservação da biodiversidade, deste espaço florestal que tem um fim económico.
Os parâmetros para obter a certificação estão essencialmente ligados à conservação de habitats de montado e à conservação de zonas de matos prioritárias. Neste sentido, não é possível realizar mobilizações, tem de ser assegurado o contínuo natural das linhas de água e vegetação ribeirinha, e recuperadas as galerias ripícolas degradadas. No fundo, é feita uma gestão ativa, com conservação da biodiversidade, deste espaço florestal que tem um fim económico, nomeadamente através da cortiça, que é retirada de nove em nove anos.
Esta gestão tem desafios, mas o gestor também refere que é sempre possível encontrar soluções: “Temos a presença de uma infestante, o feto. Como não podemos utilizar produtos químicos, é difícil fazer a limpeza. A estratégia foi promover, através da APFC, ações de voluntariado em que as pessoas ajudam a eliminar essa planta.”
A remuneração atual que o gestor tem dos serviços de ecossistemas “chega apenas através de prémios”, mas considera que seria importante ter “outro tipo de remuneração, que contribua para o trabalho que é feito. Por exemplo, praticamente todos os anos plantamos novas árvores, para estarmos sempre a rejuvenescer o nosso montado, e mantemos as mais antigas. É um investimento que poderia ser valorizado e é todo feito por nós”, diz Francisco Veiga.
A Associação de Produtores Florestais de Coruche está a trabalhar no sentido de encontrar parceiros que remunerem estes e outros serviços de ecossistemas e a desenvolver mecanismos de financiamento e pagamentos. “O mercado voluntário de carbono está ainda no início, mas é preciso, rapidamente, que haja linhas mais orientadoras para a questão da remuneração dos serviços de ecossistemas, sendo de extrema importância para os investimentos que os produtores fazem”, pormenorizou Marta Souto Barreiros, diretora-geral da APFC.